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Corrida Contra o Tempo

Corrida Contra o Tempo

11
Mai18

Tempo

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     No relógio marcavam as 18 horas, as pessoas voltavam para casa, iam saindo uma a uma e eu deixei-me ficar sentada. Não sabia para onde ir. O chá que pedira há quase meia hora já estava frio e eu nem tinha dado por isso. Estava um típico dia de Inverno, daqueles que só apetece estar em casa, mas eu não tinha nenhuma, pois casa é onde o nosso coração está e eu já não sei do meu há algum tempo. Deixei que mo despedaçassem e como não o consegui concertar, fui distribuindo partes dele aos corações incompletos com que me cruzei ao longo do meu percurso. "Oh linda, então, não queres comer nada?" - perguntou-me a empregada, que é um doce de pessoa. Sorri, agradeci, mas estava sem fome. Eu que "nunca perco o apetite", sentia-me maldisposta só de pensar em comer. Quando nos perdemos de nós próprios, já nem chocolate nos salva. Suspirei, quase me escapou uma lágrima pelo canto do olho. "Olá! Posso sentar-me aqui contigo ou estás à espera de alguém?" - ouvi. Olhei para cima. Estou à espera de mim mesma, pensei. Nunca tinha visto aquela pessoa antes e não estava com vontade de sequer saber quem era. Sorria para mim sem mostrar os dentes e procurava os meus olhos com um olhar profundo que se escondia ligeiramente por trás de uns cabelos loiros. Era alto, meio desengonçado, mas com ares de quem já partira muitos corações ou de quem tinha o seu partido. "Por acaso, estava mesmo de saída..." estava eu a responder-lhe, com uma voz trémula, quando ele se sentou numa cadeira ao meu lado e interrompeu-me "Chamo-me Dante e tu?". Revirei os olhos e comecei a arrumar as minhas coisas. "Espera, eu vou-me embora..."- disse, atrapalhado, enquanto se começou a levantar. "Não, podes ficar."- saiu dos meus lábios sem ter sido processado pelo meu cérebro. "Para sempre?" - perguntou-me sorrindo com um ar desafiador. "Sempre é muito tempo" - disse-lhe, rindo-me. "Quanto tempo dura afinal o tempo se por vezes nem damos por ele passar?" - respondeu, invadindo a minha cabeça. Pendurei a mala de novo na cadeira, percebi que ía demorar. Conversámos durante horas, ficando, inclusive para jantar. Curiosamente, no final da noite já me lembrava do caminho de casa. Quem disse que é só o fígado que se regenera? O meu coração reapareceu-me no peito, aquecendo-o. Despedimo-nos à porta do café e nunca mais o vi. Ele tinha razão, não dei pelo tempo passar e, à sua maneira, ele ficou para sempre comigo, ou pelo menos parte dele.

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