Dia Após Dia
Eu não sei bem o que aconteceu, mas algo mudou. Ela adivinhava sempre quando é que ele estava mal e não lhe perguntava se precisava de alguma coisa, apenas saía porta fora e ía socorrê-lo. Na verdade, não tenho a certeza se não era a forma de ela pedir-lhe socorro. Dona de si, com um passo apressado e sem olhar para trás. Que mulher... Não era perfeita e estava longe de o ser, mas mesmo cheia de imperfeições, era fiel a si própria. Amava com toda a essência do seu ser e era esse amor que ao mesmo tempo a destruía. Era a sua melhor cura e o seu pior veneno num só frasco. Parecia que havia um equilíbrio ideal. Dia após dia, a forma como caminhava para onde só ela sabia que ía, alterava-se. Até que começou a voltar pior do que ía. No frasco restou apenas o que a derrubava lentamente. Quando pensamos demasiado no bem dos outros, por vezes esquecemo-nos de cuidarmos de nós próprios. Ela não se prendeu em casa, apenas mudou de direção. Traçou as próprias rotas e os objetivos em função dos seus sonhos. Nunca é tarde para seguirmos os nossos sonhos, dizem. Entretanto, soube que mudou de casa. Algures construiu o seu refúgio e aprendeu a bastar-se a si própria. Aprendeu o significado de "amor próprio" e assim aprendeu a amar sem medida. Tornou-se a própria cura e decidiu afastar-se de tudo o que era tóxico. Errar qualquer um erra, aprender com os erros é que marca a diferença. Cruzei-me com ela no outro dia, nunca vi um sorriso tão vivo. Sorria com os olhos.